Aprendizagem da Filosofia — Algumas Regras

O tempo de inactividade ajuda a recarregar a energia necessária para trabalhar em máxima concentração

    Um artigo de 2008 que é frequentemente citado e que foi publicado na revista Psychological Science descreve uma experiência simples. Os indivíduos foram divididos em dois grupos. Um grupo foi convidado a caminhar por um trilho arborizado num arboreto perto do campus de Ann Arbor, no Michigan, onde o estudo foi conduzido. O outro grupo foi enviado para uma caminhada pelo movimentado centro da cidade. Ambos os grupos receberam uma tarefa de concentração exaustiva em que tinham de recordar uma sequência numérica em sentido inverso. A principal descoberta do estudo é que o grupo que caminhou pela natureza obteve um resultado até 20% melhor do que o outro grupo. A vantagem da natureza ainda se manteve na semana seguinte, quando os investigadores levaram os mesmos indivíduos e inverteram os locais: não eram as pessoas que determinavam o desempenho, mas se tinham ou não a oportunidade de se preparar caminhando pela floresta.

    Ao que tudo indica, este estudo é um dos muitos que validam a teoria da restauração da atenção (TRA), que afirma que o tempo passado na natureza pode melhorar a capacidade de concentração. Esta teoria, que foi proposta pela primeira vez na década de 1980 pelos psicólogos da Universidade de Michigan, Rachel Kaplan e Stephen Kaplan (o último dos quais foi co-autor do estudo de 2008 abordado aqui, juntamente com Marc Berman e John Jonides), baseia-se no conceito de fadiga da atenção. Para nos concentrarmos é preciso aquilo a que a TRA denomina como «atenção dirigida». Este recurso é finito: quando o esgotamos, teremos dificuldade em nos concentrarmos. (Para o nosso propósito. Podemos pensar neste recurso como sendo idêntico às reservas de força de vontade limitadas de Baumeister, que abordámos na introdução desta regra.[1]) O estudo de 2008 argumenta que andar nas ruas agitadas de uma cidade exige o uso da atenção dirigida, uma vez que é preciso enfrentar tarefas complicadas, como descobrir quando atravessar uma rua para não ser atropelado, ou como ultrapassar um grupo lento de turistas que bloqueia o passeio. Bastaram apenas cinquenta minutos desse caminhar concentrado para as reservas de atenção dirigida dos indivíduos baixarem.

    Em contrapartida, caminhar pela natureza expõe-nos àquilo que o autor Marc Berman denomina como «estímulos inerentemente fascinantes», usando pores do Sol como exemplo. Esses estímulos «invocam atenção modestamente, permitindo que os mecanismos de atenção concentrada tenham a hipótese de se reabastecer». Dito de outra forma, ao caminharmos pela natureza, não necessitamos de dirigir a atenção, pois os desafios a enfrentar são poucos (tais como atravessar ruas repletas de automóveis e pessoas), e podemos experimentar estímulos suficientemente interessantes para manter a mente ocupada o bastante para evitar a necessidade de dirigir a atenção activamente. Este estado proporciona tempo para que os recursos de atenção dirigida sejam reabastecidos. Após cinquenta minutos desse reabastecimento, os sujeitos tiveram um aumento na concentração.

    (Pode, é claro, argumentar que talvez estar no exterior a assistir a um belo pôr do Sol deixa as pessoas de bom humor, e estar de bom humor é o que realmente vai ajudar no desempenho dessas tarefas. Mas num toque sádico, os investigadores deitaram por terra essa hipótese repetindo a experiência no rigoroso Inverno de Ann Arbor. Caminhar no exterior em condições de frio brutal não colocou os sujeitos de bom humor, mas ainda obtiveram melhores resultados em tarefas de concentração.)

    O que é importante para o nosso propósito é observar que as implicações da TRA se expandem para além dos benefícios da natureza. O mecanismo central desta teoria é a ideia de que é possível restaurar a capacidade de dirigir a atenção se dermos descanso a esta actividade. Caminhar na natureza proporciona um descanso mental que pode ser obtido através de muitas outras actividades relaxantes, desde que essas actividades forneçam «estímulos intrinsecamente fascinantes» equivalentes e libertem a mente da concentração dirigida. O tipo de actividade que usa para preencher o seu tempo à noite (se se forçar a desligar do trabalho), como manter uma conversa casual com um amigo, ouvir música enquanto faz o jantar, jogar um jogo com os seus filhos, ir fazer uma corrida, desempenha o mesmo papel de restabelecimento da atenção como caminhar pela natureza.

    Por outro lado, se estiver continuamente a interromper a sua noite para verificar e responder aos e-mails, ou deixa de lado algumas horas após o jantar para avançar num trabalho atrasado cujo prazo de entrega se aproxima, estará a desviar os seus centros de atenção dirigida do descanso ininterrupto de que necessitam para se restaurarem. Ainda que esses momentos de trabalho consumam apenas uma pequena quantidade de tempo, impedem-no de alcançar os níveis de relaxamento mais profundo em que a restauração da atenção pode ocorrer. Apenas a confiança de que o trabalho do dia está terminado pode convencer o seu cérebro a mudar para o nível em que pode começar a recarregar para retomar no dia seguinte. Dito de outra forma, tentar realizar um pouco mais de trabalho à noite pode reduzir a sua eficácia no dia seguinte, a ponto de acabar por produzir menos do que se tivesse respeitado o desligamento na noite anterior.


Fonte: NEWPORT, Cal. Deep Work - A Concentração Máxima num Mundo de Distracções. Actual Editora, Coimbra, Setembro de 2017, pp. 122 a 125.


[1] Existem debates na literatura sobre se estes terão exactamente a mesma quantidade. Todavia, para o nosso propósito, isso não importa. A principal observação é que existe um recurso limitado, necessário à atenção, que deve ser conservado.


Como Estudar

    O estudo da matéria deve ocorrer entre a aula e o sono nocturno. Deve-se estar num local sossegado, confortável e que permita concentração. Por isso... nada de TV nem de rádio! E o aluno perguntará: "Mas não posso estudar ouvindo música?" Pode, mas caso queira ouvir música com vocalista, que seja num idioma que o aluno não conheça, para que as palavras não distraiam a concentração.

    Então, o que fazer para estudar bem?

    Há um velho ditado chinês que diz: "Se eu ouço, esqueço! Se eu vejo, entendo! Se eu FAÇO, aprendo!"

    Todo o segredo está aí! Para estudar, é indispensável estudar fazendo.
    Não adianta nada ficar a olhar para um livro aberto de forma passiva ou, quando muito, marcando com um marcador "verde-fluorescente" os trechos de um texto que o aluno tenha achado interessantes.

    Nunca estude sem ter um lápis em actividade sobre um pedaço de papel.

    Se o objecto de estudo for um texto de História, por exemplo, não se limite a lê-lo ou, pior, em tentar decorá-lo.
    Ao contrário, descubra quais os conceitos e factos mais importantes (aqueles que você marcaria com o marcador verde) e escreva-os numa folha de papel.

    O próprio acto de escrever é que permite uma maior fixação posterior durante a noite.

    Em rigor, o papel pode ser deitado ao lixo em seguida, pois o que importa não é o que está gravado nele, mas sim o que foi gravado na sua mente. Se não quiser ser ecologicamente incorrecto, pode substituir o lápis e o papel por giz e uma pequena lousa.

    Importa o acto de escrever e não o que está escrito.

    .....

    Agora, um cuidado: DIGITAR NÃO É ESCREVER!
    Não adianta nada ficar a fazer resuminhos no processador de texto! Eles ficarão gravados no disco rígido do computador e não no seu disco rígido (cérebro)!

    Você já se perguntou qual é a matéria mais fácil de aprender?
    Pense um pouco...
    ...isso mesmo: Matemática!

    Se não concorda com isso, releia, por favor, a pergunta. Não perguntámos qual a matéria mais fácil de entender.
    Aliás, em certos assuntos, a Matemática é até bem difícil de ser entendida.
    Mas, uma vez entendida, torna-se fácil de ser aprendida! Estudar matemática é fazer, fazer e fazer!

    Por outro lado, há pessoas que julgam que o estudo de História é simples porque, durante as aulas, entendem tudo. Depois queixam-se de que não conseguem gravar o que aprenderam.
    Na realidade, não aprenderam; só entenderam.

    Para realmente aprender História, não basta assistir à aula e, depois, ler um capítulo do livro. É necessário ter lápis e papel e escrever as palavras-chave, os trechos mais significativos.

    Não há necessidade de se fazer um resumo completo, mas é importante escrever, de forma até esquemática, os pontos mais importantes.


Fonte: Prof. Pierluigi Piazzi; Aprendendo Inteligência; Vol. N.º 1; 2.ª ed. rev., Col. "Neuropedagogia", Editora Aleph, São Paulo (Brasil), 2008, pp. 58 a 62 (transcrito e adaptado).


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